“Onde há democracia, há também, em princípio, estética”: Jacques Rancière e as novas dinâmicas de organização social

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Pedro Hussak van Velthen Ramos

Resumo

Este artigo pretende esclarecer a posição de Jacques Rancière em relação às novas dinâmicas de organização social, particularmente a relação do seu pensamento com as grandes manifestações ocorridas no início desta década como a primavera árabe, o occupy wal street e o 15M espanhol. Em comum, estas manifestações revelaram uma recusa da política institucional, apostando na autonomia dos movimentos de rua. Para Rancière, verifica-se hoje uma crise de representação, revelada no fato de que tais movimentos não foram organizados por partidos, sindicatos, organizações, etc., mas revelaram a presença da política de qualquer um. Rancière percebe ali uma nova maneira da realização da democracia fora da esfera estatal, o que o leva a identificar uma relação profícua entre estética e política, pois tais manifestações operam uma reorganização da esfera da visibilidade na medida em que é colocado em jogo um consenso sobre um conjunto de evidências sensíveis. Por isso, uma manifestação política hoje ganha ares de uma performance artística, não porque a estética deva substituir-se às reivindicações políticas reais, mas porque a ausência de uma direção política centralizada libertou a imaginação política. Tais considerações são a ocasião para discutir as concepções de momento político e cena para encaminhar para o esclarecimento do paradoxo inerente ao pensamento de Rancière entre a necessidade da ação política como a única maneira de se apontar para a transformação social e a ausência de uma teoria que saiba o sentido da História a fim de poder orientar esta mesma ação política. Finalmente, o artigo situa as críticas de Rancière com relação às noções de hegemonia e estratégia.

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