Sobre máquinas e organismos. Canguilhem e os aspectos dissimulados do animal-máquina cartesiano

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Rafael Henrique Teixeira

Resumo

O objetivo deste artigo é abordar a leitura que Canguilhem oferece da biologia cartesiana. Mais que simples comentário de intérprete, Canguilhem pretende demonstrar como, por meio da representação mecânica do organismo, máquina cujo funcionamento depende exclusivamente da disposição de seus órgãos, Descartes foi obrigado a integrar à elucidação mecânica do corpo vivo elementos refratários a um mecanicismo integral. Esses elementos Canguilhem encontra no antropomorfismo tecnológico observável na metafísica que subentende a tese do animal-máquina. De um lado, essa maneira de encarar a filosofia cartesiana se apresenta como corolário da filosofia biológica da técnica de Canguilhem; de outro, ela se enquadra em um aspecto não menos fundante de sua filosofia: a busca, na história dos saberes sobre a vida, de elementos que permitem concluir acerca da irredutível originalidade do vital às tentativas teóricas de sua anexação a modelos não-vivos. Tomando por objeto a filosofia cartesiana, essa tentativa ganha em notoriedade. Ela se dá precisamente lá onde o mecanicismo parecia fornecer a última palavra acerca dos contornos da vida.

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