O dilema biopolítico: negacionismo biopolítico e reapropriação biopolítica

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Ádamo Bouças da Veiga

Resumo

O presente trabalho contrasta duas posturas díspares diante da biopolítica contemporânea, com especial foco, porém, não exclusivo, na gestão da pandemia de COVID-19. Identificamos duas posturas ou estratégias díspares neste aspecto que denominaremos reapropriação biopolítica e negacionismo biopolítico. O primeiro será analisado a partir da obra de Paul B. Preciado ao passo que o segundo o será em relação aos textos pandêmicos de Giorgio Agamben. Procedemos pela apresentação do conceito de biopolítica em sua origem foucaultiana e em alguns desdobramentos posteriores. Em seguida, analisaremos a estratégia de resistência de Preciado e Agamben. Por fim, conclui-se que a estratégia proposta por Agamben leva a uma necropolítica suicidária, como demonstra o caso brasileiro, enquanto a postura de Preciado apresenta um horizonte amplo de possíveis e válidas resistências à biopolítica contemporânea.

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Biografia do Autor

Ádamo Bouças da Veiga, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Doutor (2020) e Mestre (2016) em Filosofia com ênfase em Ética e Filosofia Política pela PUC-RIO, com Estágio de Pós-Doutorado nesta mesma instituição. Atualmente, é pesquisador de pós-doutorado no Laboratório de Estudos Queer em Educação da Faculdade de Educação da UFRJ como bolsista FAPERJ; sua pesquisa versa sobre as relações entre ecologia queer, mudança climática e o campo educacional. Possui Bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Federal Fluminense (2011) e Licenciatura em Filosofia pela UERJ. Tem experiência na área de Filosofia Contemporânea. Filosofia Moderna, Teoria Queer e Filosofia e questão ambiental. Durante o mestrado, sob orientação do Prof. Doutor Rodrigo Guimarães Nunes, dedicou-se a pesquisa da interface entre filosofia e sociologia sob um viés ético e político, a partir da filosofia francesa contemporânea com foco na ontologia de Gilles Deleuze, na filosofia da ciência de Gilbert Simondon e na sociologia de Gabriel Tarde. Sua tese versou sobre às implicações da filosofia de Gilles Deleuze em relação à "Virada Especulativa" e aos problemas postos pela mudança climática. É membro do Grupo de Estudos "Estudos e Pesquisas em Currículo, Ética e Diferença", do Grupo de Estudos "Materialismos" e do Grupo de Trabalho Ontologias Contemporâneas da ANPOF. Atua na produção de material didático pela Kroton Educacional desde 2020 e atuou como professor substituto da Universidade Federal do Amazonas de 2021 a 2022. É o idealizador e coordenador pedagógico do Instituto Estudos do Presente (IEP).

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