Crise existencial e poética do mito em A náusea, de Sartre

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Caio Liudvik

Resumo

O romance A náusea (1938), de Jean-Paul Sartre, uma das obras-primas da literatura do século XX, é também um dos marcos do existencialismo francês. Retrata, através do diário de um historiador fictício, Antoine Roquentin, a tomada de consciência de que a própria “História” é uma ficção, o que se torna parte de ampla crise existencial que levará o protagonista a abandonar sua pesquisa histórica e desejar escrever um romance. O presente artigo analisa este arco dramático, ou a transformação subjetiva do protagonista, ao longo da história, como um processo simbólico de iniciação, segundo as chaves de leitura do que o crítico russo E. M. Mielietinski chamou de a poética do mito, a moderna revalorização do discurso mítico como base de criação e de interpretação de obras de arte, mesmo quando independentes, caso de A náusea, de qualquer orientação religiosa à maneira do mito tradicional.

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Biografia do Autor

Caio Liudvik, Universidade de São Paulo (USP)

Possui graduação em Cências Sociais pela Universidade de São Paulo (2000) e em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2003), bem como Mestrado (2006), Doutorado (2010) e Pós-doutorado (2016) em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Desde setembro de 2019 desenvolve segunda pesquisa de pós-doutorado em Filosofia pela USP. Tem experiência na área de Jornalismo Cultural (crítico e articulista da Folha de S. Paulo), traduções acadêmicas e como pesquisador e docente em cursos de Filosofia, em especial sobre temas como a Relação entre Literatura e Filosofia, Existencialismo (Sartre, Camus), Psicologia de Carl Jung, Mito e Cristianismo. Assina livros, artigos e traduções como Caio Liudvik.

Nome completo: Caio Caramico Soares
Nome em citações bibliográficas: Caio Liudvik

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