Farmacologia e Filosofia da Tecnologia: A contribuição do diálogo Fedro de Platão

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Carlos Eduardo Aguiar

Resumo

Fedro de Platão é o modelo paradigmático da reflexão crítica sobre a técnica, pois denuncia o caráter maléfico da escrita, destacando seus efeitos prejudiciais, especialmente ao promover o esquecimento, corromper a construção do conhecimento e forjar um simulacro de comunicação. Este artigo tem como objetivo analisar Fedro explorando a reflexão de Jacques Derrida que interpreta que, para Platão, a escrita é, acima de tudo, um phármakon, simultaneamente remédio e veneno. Enfatiza-se, assim, a fascinação provocada pela escrita, sua capacidade de transformar a ecologia social e desterritorializar o território, mas também a tendência da escrita em causar perturbações na efetivação do diálogo e o encontro com o outro. Os elementos que emergem dessa reflexão evidenciam a não neutralidade da tecnologia, enfatizando a abordagem farmacológica como uma contribuição relevante para o debate sobre o caráter não instrumental das técnicas presentes na filosofia da tecnologia contemporânea.

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Biografia do Autor

Carlos Eduardo Aguiar, UFRJ

Doutor em Sociologia pela Université Sorbonne Paris Cité (bolsista Capes de Doutorado Pleno no Exterior), mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP (bolsista Fapesp), especialista em Ciências da Religião pela PUC-SP e graduado em Relações Públicas, Filosofia e Ciências Sociais pela USP. Realiza estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ e é professor e coordenador do Núcleo de Pesquisa da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom). Foi professor contratado do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP na especialidade de Teoria e Pesquisa em Comunicação (2021-2023) e professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero (2021-2022/desativado). Autor dos livros "Pensando a tecnologia : questões filosóficas, sociológicas e comunicacionais" (Paulus, 2023) e "A sacralidade digital: religiões e religiosidades na época das redes" (Annablume, 2014).

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