Política sexual em Lisístrata: o Eros cômico

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Luisa Severo Buarque de Holanda
Felipe Gall

Resumo

Nosso intuito neste artigo é iluminar a relevância e a densidade da atuação política da protagonista Lisístrata na peça homônima de Aristófanes. Para tanto, serão explicitados os pressupostos dos elementos propriamente sexuais que permeiam as lúcidas táticas políticas que essa personagem põe em funcionamento ao longo da obra. Tal operação será feita em três tempos. Em um primeiro momento, iremos elencar as imagens — não à toa quase sempre sexuais e sexualizadas — do feminino na peça. Em uma segunda seção, iremos analisar o que significa, em termos de política sexual, o paralelismo abundantemente explorado por Aristófanes entre a famosa greve de sexo praticada pelas jovens mulheres casadas e a ocupação da Acrópole levada a cabo pelas mulheres mais velhas. Por fim, procuraremos apresentar uma interpretação para o significado das intervenções propostas e lideradas por Lisístrata nos termos das condições sociais do contexto histórico em que a peça se inscreve. Concluiremos desenvolvendo um paralelo entre os pendores femininos e os pendores cômicos, que só podem ser plenamente realizados em um ambiente de paz.

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Artigos
Biografia do Autor

Luisa Severo Buarque de Holanda, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Possui graduação (1997), mestrado (2001) e doutorado (2008) em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou um estágio pós-doutoral na Sorbonne (Centre Léon Robin, 2010), sob supervisão da Profa. Barbara Cassin, e um segundo estágio pós-doutoral no Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra (2019-2020), sob a supervisão da Profa. Maria de Fátima Sousa e Silva. É professora adjunta (desde 2013) e Coordenadora de Graduação (desde 2020) do Departamento de Filosofia da PUC-Rio, atuando na graduação e na pós-graduação stricto sensu. Foi professora visitante na Södertörns University (Suécia, 2013) e na Universidade Nova de Lisboa (2020/21/22). Foi Coordenadora do Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IEAHu) da PUC-Rio entre 2016 e 2019. Integra os seguintes grupos de pesquisa: Ousia (Laboratório de Estudos de Filosofia Clássica da UFRJ), Pragma (Programa de Estudos em Filosofia Clássica da UFRJ) e Nufa (Núcleo de Filosofia Antiga da PUC-Rio). É membro da Associação Latinoamericana de Filosofia Antiga (ALFA), da Rede Brasileira de Mulheres Filósofas (RBMF), do GT de Filosofia Antiga da ANPOF e da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC). Foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos no biênio 2018-2019 e Editora Chefe da Revista Classica, periódico da SBEC, entre 2018 e 2021. Tem experiência na área de Filosofia Antiga e Literatura Grega, atuando principalmente nos seguintes temas: mímesis, tragédia, comédia, obra aristofânica, História da Filosofia Antiga, Platão e Aristóteles, Filosofia da Linguagem na Antiguidade, História da Retórica.

Felipe Gall, Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

Possui doutorado (2021) e mestrado (2017) em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e graduação (licenciatura) em Filosofia (2014) e em História (2013) pela Universidade Católica de Petrópolis. Fez um estágio pós-doutoral na Universidade Federal Fluminense. Professor adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É membro da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC) e do GT Filosofia Antiga, da ANPOF.

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